segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Diário de bordo - CINCO VEZES MÃE - 21/08/2008

Tarde de quinta-feira. Por volta das 14h30 partimos rumo ao município de Embu, localizado a 28 km da capital paulista. Havíamos marcado às 15h na sede da Associação de Amigos de Bairro Jardim dos Moraes, com o presidente Francisco Ribeiro de Souza. Conhecemos Seu Francisco por meio de uma amiga em comum de uma das integrantes do grupo. Neste dia, ele nos levaria até nossas possíveis personagens. Depois de alguns erros pelo caminho, chegamos com mais ou menos meia hora de atraso. Ele já estava a nossa espera.

Explicamos do que se tratava nosso trabalho, até então com o tema um pouco indefinido. Nessa data ainda estávamos procurando por famílias de classe sócio-econômicas distintas, de acordo com nosso projeto anterior. Passando por córregos, ruas repletas de crianças brincando e vielas estreitas, chegamos à casa de Dona Oscarlina.

O chão estava úmido e o odor de esgoto era muito forte. A casa fica bem próxima a um córrego. Na cozinha, pudemos sentir o cheiro de comida e observar o que havia restado do almoço. Com o sorriso no rosto, Oscarlina nos recebeu de maneira humilde, além de pedir desculpas pela bagunça do lugar. O espaço não tem janelas e, para entrar claridade, é necessária a retirada de uma ou duas telhas. No quarto, duas camas repletas de roupas e ursinhos de pelúcia espalhados entre as paredes e o teto.

E foi ali mesmo, durante mais de uma hora de conversa, que ela nos contou timidamente um pouco sobre as dificuldades que passou e que ainda passa para criar seus filhos. Foi mãe 13 vezes, e já perdeu oito filhos. Dilmara, uma de suas filhas acompanhou e também participou dessa pré-entrevista. Fomos embora com a promessa de voltarmos para a gravação, que Dona Oscarlina aceitou participar.

Durante a volta, perguntamos ao Seu Francisco se ele teria outra família para nos indicar. Nesse momento, ele apontou uma casa bem próxima de onde estávamos, dizendo que ali morava Luciana, uma mulher com uma história de vida “bem forte”. Não pensamos duas vezes e pedimos para conhecê-la. Seu Francisco entrou e falou sobre nosso trabalho para ela, que no mesmo instante aceitou nos receber.

Entramos por um portão de ferro e passamos por dois corredores apertados até chegarmos à casa de Luciana, a última que ocupava aquele mesmo quintal. O som de pagode ecoava alto de uma das residências. Entramos. As louças ainda estavam sem lavar na pia, um de seus filhos tomava banho e ela trocava as gêmeas. Sem se intimidar, Luciana começou a nos contar sua história. Falou sobre a perda de seu primeiro marido, pai de seus primeiros dois filhos. Ele foi assassinado. E, para nossa surpresa, sem mesmo nos conhecer, Luciana contou sobre o drama que viveu ainda na infância: foi abusada sexualmente pelo pai entre os sete e dez anos. Hoje ele está preso, graças a uma denúncia de Luciana, que há seis anos o viu abusando de uma menina de três anos.

Ela disse que gostou de nossa visita, que era bom ter com quem conversar e desabafar seus sentimentos. Hoje é mãe de cinco filhos: Alessandro, Juliana, Willian, Yasmin e Yngrid, frutos de três relações diferentes. Enquanto conversávamos, Willian gritava desesperadamente para a mãe pegá-lo no chuveiro. Agradecemos a atenção de Luciana, e saímos daquela casa com muitas dúvidas, entre elas a principal: qual família seria escolhida para fazer parte de nosso documentário?

Já de volta no carro, em meio ao trânsito de fim de tarde da Rodovia Régis Bittencourt, começamos a pensar em um elo entre aquelas personagens. Foi quando percebemos que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, elas eram mães. Uma nova idéia tomou conta de nossos pensamentos: por que não focarmos nosso documentário em algo ligado a maternidade? Naquele momento percebemos que muitas conversas ainda estavam por vir...

Juliana Rigotti

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Documentário CINCO VEZES MÃE


A experiência de produzir um documentário não pode ser expressada em palavras. Quando os créditos começam a subir, a sensação de trabalho concluido dá um ar de "tarefa feita" que vocês não podem imaginar!

Não é porque é meu. Mas sem dúvida ficou muito bom. Vou postar os diários das gravações. Se alguém quiser assistir é só deixar um comentário rsrsrs.


Aí vai sinopse:


CINCO VEZES MÃE


É possível medir o tamanho do amor que uma mãe sente pelo filho? Até que ponto ela é capaz de chegar para protegê-lo? Qual é o verdadeiro limite?

O documentário Cinco Vezes Mãe traz depoimentos sobre a trajetória de cinco mulheres que passam por situações extremas no relacionamento com os filhos.

Relatos comoventes e o outro lado da maternidade. Márcia, Rosilda, Luciana, Oscarlina e Malvira são as heroínas ocultas destas histórias. Mulheres que superam os obstáculos do cotidiano para enfrentar o dia seguinte.


A reflexão para filhos, pais e aqueles que um dia passaram ou ainda passarão por esses caminhos será intensa. O telespectador vai se emocionar com cada palavra, gesto e lágrimas que envolvem os dramas da vida real.






Juliana Aguiar Carneiro

Seja vivo – Não use drogas


No primeiro momento parece ser a saída mais fácil de ser encontrada. É prazeroso, é agradável, te faz feliz e te enche de amigos. Por isso é tão atrativa. Isso apenas no primeiro momento. Engana-se aquele que acha que viver de ilusão é ser feliz.

Portas parecem se abrir, a vida ganha cores mais vivas. Não se esqueça! É somente o primeiro passo. Risos e mais risos, sensação nunca antes experimentada, quem sabe talvez seja a sensação real de liberdade?

Engana-se mais uma vez. Aquela substância que antes parecia inofensiva foi tomando proporções cada vez maiores. Já é impossível viver sem ela. A liberdade que antes parecia conquistada, hoje o faz prisioneiro de si mesmo.

As cores que antes coloriam a tela da vida, hoje já estão apagadas. As novas amizades, destroçadas, perdidas, presas, ou em cemitérios espalhados pelas ruas, não existem mais. Você está sozinho. As portas estão fechadas. É só você e o seu vício.

O fundo do poço não parecia ser tão fundo e percorrer o seu caminho nunca foi tão rápido. Sua família não o reconhece mais. Seus pais não te entendem, não escutam o seu grito de socorro. Não falam mais a sua língua, não tem ninguém para te apoiar.

Mas de repente você se cansa de tudo isso e busca uma saída. A solução sempre esteve ali, do seu lado e você nunca percebeu. Resolve abrir a porta mais uma vez, porém dessa vez encontra a presença de Deus.

O caminho a percorrer é longo, a estrada é cheia de obstáculos. Mas no Senhor você encontra um amigo, que vai te acompanhar por todo o percurso. Dessa vez você já não está mais sozinho.

A tela da vida começa a ser pintada novamente, com cores mais fortes, vibrantes. Enfim a verdadeira sensação de liberdade pode ser encontrada. Nesse amigo, que sempre te olhou, esperando a oportunidade de você abrir a porta, a porta do seu coração.

Se um dia você esteve ou está nessa situação, comemore mais uma trajetória repleta de obstáculos que com a presença de Deus pode ser transpassada. Outros obstáculos ainda estarão por vir. Mas não se esqueça que conquistou um amigo que nunca vai lhe abandonar, que sempre vai lhe estender a mão a cada necessidade.

A cada etapa vencida, há de se comemorar, mas a comemoração maior é viver livre dia após dia. Por isso, sorria, que o caminho que trilha hoje é a vitória que conquistará amanhã.
Juliana Aguiar Carneiro

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Mudando a carinha do blog...

Esse blog nasceu por um único motivo: idéia do professor Enio, que vale ressaltar, um dos melhores de todo o Universo!
Precisava de um espaço para colocar as matérias que escrevia na Faculdade. Sabe, incluir que escrevia em algum lugar no currículo.
Já estou revendo os meus conceitos. Confesso que fui engolida por essa onda de blogs, e quero levar isso a sério. Porém estou me aprofundando na produção de um documentário e acho que estarei com a cabeça nele e um pouco ausente!
Quem diria não é! Por isso acredito que o perfil deste blog com o tempo será modificado.
Já aviso que na maioria das vezes, você vai encontrar um jornalismo literário, coberto de sentimentos e emoções. Acho que reparou isso nos textos abaixo!
Então ...
Agora sim ... Sejam bem-vindos !!!
Juliana Aguiar Carneiro

terça-feira, 24 de junho de 2008

Palavras como escolha!



As notícias correm ao seu olhar, fatos e acontecimentos parecem intrigar essa garota. Na escola a única matéria que gostava era português e redação. Matemática? Só quando se tratava de gráficos e estatísticas. Assim ao chegar à adolescência e se deparar com a responsabilidade de escolher uma profissão: não teve dúvida! Só lhe restava o jornalismo: "A única matéria que ia sempre bem no colégio era Redação, sabia que trabalhar com as palavras era a minha maior vontade".


No Ensino Médio liderou a criação de um jornal para os alunos. Os assuntos eram variados, desde acontecimentos internos a descobertas científicas. A intimidade com a rotina do jornalista intrigava seus professores: "No começo era só um trabalho de escola. No 2º colegial os alunos eram obrigados a produzir durante o ano inteiro o jornal da escola. Acabei ficando na redação o ensino médio inteiro".

Estava preparada para prestar vestibular. Não sentia medo de escolher a profissão errada. Pensou em cinema, mas apenas gostava do assunto quando se tratava de criação de roteiros.
No começo teve problemas. Seu pai, advogado, não enxergava o jornalismo como uma profissão: "Para o meu pai, ser jornalista é coisa de quem não tem o que fazer. O sonho dele é que eu fosse uma advogada e que seguisse o seu caminho e de meu irmão".

Mas de personalidade forte, a estudante de jornalismo, Juliana Aguiar Carneiro, 21 anos, não desistiu de seus sonhos. Encontrou o apoio que precisava na sua mãe que sempre dizia para escolher a profissão que desejasse, independente de qual fosse.

Errou ao procurar uma Universidade próxima da sua casa: "Procurei comodidade e estrutura, não pesquisei o melhor corpo docente".

Começou seu curso na Universidade Anhembi Morumbi, excelente no seu espaço físico, mas deixou a desejar no conteúdo. Acabou se decepcionando com a universidade, mas não desistiu do curso. Assim que teve oportunidade se transferiu: "Procurei uma Universidade que me satisfizesse com conteúdo e professores capacitados. Não me arrependo de ter mudado na altura do campeonato. Na FiAM aprendi muitos mais do que três anos em outra Universidade. Mas sinto saudades dos amigos que lá ficaram".

No final do curso, o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) parece preocupar. O tema ela já tem e sabe como conduzir, mas novas experiências geram medo e insegurança.

Mas o que assusta mesmo é o mercado de trabalho. Olha os jornais e revistas e se decepciona um pouco com o que vê. Maus profissionais a desiludem. O sensacionalismo a deixa chocada e decepcionada. Mas como em todas as profissões existem os bons e maus profissionais e sabe que não quer entrar na onda dos maus profissionais.

Já decidiu em que área trabalhar. Quer fazer jornalismo literário, poder passar aos leitores sentimentos e sensações, emocionar as pessoas com seus textos e não apenas reproduzir fatos e dados estatísticos.

As causas sociais a impulsionam, expor a realidade de uma parcela da população mais carente é o que lhe da mais prazer: "Acredito nas ações civis sociais e gosto de escrever sobre isso. A solução da degradável situação que o país vive esta nas mãos do Terceiro Setor. Quero fazer parte dessa Revolução. Não quero ficar sentada esperando o assistencialismo do Governo".

Tem como projeto de vida ajudar a instituições sérias e com bons projetos e intenções: "Se cada um fizer um pouquinho a sua parte, a história do nosso país será um pouco diferente. Ajudo com o meu jornalismo algumas instituições. Sei que faço muito pouco, mas tenho como plano de vida ajudar muito mais. Mesmo assim, tenho a ciência da importância da minha contribuição. Antes pouco do que nada!".



Juliana Aguiar Carneiro

sábado, 7 de junho de 2008

Cidade dos sabores

Poucas pessoas sabem, mas a gastronomia paulistana é famosa em todo o mundo. Comer bem em São Paulo já virou a principal atração turística. São mais de dez mil opções para todos os gostos e bolsos. Além disso, é possível experimentar diversos tipos de comidas de diferentes países em uma única região.

Os restaurantes da metrópole parecem ter conquistado o público mundial. De acordo com a Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo (ABRESI) o título de capital da gastronomia mundial já é reconhecido há cinco anos.
São mais de dez mil opções representando 51 etnias: "Em São Paulo podemos comer um pouco de tudo. Até mesmo na praça de alimentação de um shopping qualquer encontramos diferentes tipos de comida: japonesa, árabe, mexicana, americana e claro a brasileira" afirma Rafael Luís de Souza, 22 anos.

A capital oferece restaurantes alemães, portugueses, australianos, egípcios, árabes, marroquinos, italianos, libaneses, japoneses, chineses, gregos, vietnamitas, mexicanos, e mais uma extensa lista de opções. Sem contar nas centenas de churrascarias, pizzarias e lanchonetes: "É impossível se sentir longe de casa, tem comida para todos os gostos" diz Alexandre Vieira, 27 anos, dono de restaurante.

É comum encontrarmos chefs de origem francesa especializados em comida japonesa e vice e versa. "O incrível desta cidade é que as pessoas nos dão credibilidade independente da nossa origem. Eu sou filho de italianos, porém meu interesse em gastronomia só surgiu quando eu conheci a comida mexicana" conta Gustavo Leão, 32 anos chef de cozinha.

O maior pólo econômico do país ganhou esse título devido a um empenho da vereadora do Partido dos Trabalhadores, Aldaíza Spozati, que formou uma comissão de vereadores de diversos partidos para preparar oficialmente a cidade para receber o título.

Foram anos de aprimoramento do projeto até São Paulo fazer parte da Comissão de Honras das Nações, constituída por 40 países e dez Entidades Civis Internacionais ligados à gastronomia e turismo. O grupo faz o levantamento de todos os participantes e um júri internacional fica responsável pela escolha dos vencedores.

Porém não é só a gastronomia internacional que ganha destaque. A culinária nacional também tem seu espaço. São restaurantes de comidas típicas gaúcha, caipira, mineira e baiana. "Vim para São Paulo com a minha família em busca de um emprego melhor. No final de semana, a gente sempre acaba procurando um lugarzinho de comida nordestina pra matar a saudade" afirma Clodoaldo Araújo, 33 anos, ajudante de obra.
Sem dúvida a maior cidade do País é um dos destinos mais hospitaleiros do mundo. Com tantos paladares, sabores e sensações São Paulo virou um convite a uma viagem saborosa para todos os gostos. Então: bom apetite!

Patricinha de Lavínia

A história da garota que largou a vida dos shoppings paulistas para o interior de uma Penitenciaria.
Mais uma sexta-feira de ansiedade. Em seu trabalho ela conta os segundos no relógio. As horas parecem intermináveis. Todas as sextas-feiras são assim. Ela sai correndo do seu emprego carregada de malas de viagem e embarca no metro com uma multidão de pessoas. Seus olhos têm um vazio, um vazio que só é preenchido aos finais de semana.

Mariana Mendes é uma garota, mas com responsabilidades de mulher. Com apenas 18 anos, cursa o primeiro ano da faculdade de Direito e sabe que o que enfrenta não é fácil, mas tem a consciência que existe alguém que depende dela e isso lhe dá forças para continuar.

Mas o seu cotidiano nem sempre foi assim. Sua infância foi repleta de alegrias regada com os melhores brinquedos que a Indústria poderia oferecer: “Confesso que nunca passei necessidade e sempre tive tudo o que quis”.

A vida inteira estudou em colégios particulares, fala inglês e espanhol, e a sua Faculdade é considerada uma das mais caras de São Paulo. Suas amigas não sonham sequer com os seus finais de semana e entendem menos ainda o porquê do seu emprego. Não precisa de trabalho, seus pais podem lhe oferecer tudo que quiser.

A noite começa a despontar e a sua rotina misteriosa começa a aflorar. Sente frio, o ar condicionado do ônibus de viagem esta ligado, mas o frio na sua barriga parece ser muito maior. O coração? Apertado de tanta saudade.

Não é uma viagem normal, não vai à praia ou a casa de campo de seus pais. Alias todos os finais de semana viaja sozinha, só depois de muito tempo ganhou uma companheira nessa longa caminhada.

O ônibus não sai do Terminal Rodoviário Tietê ou Jabaquara. Ela se reúne com outras tantas mulheres na Barra Funda. No meio da multidão se torna apenas mais uma, cheia de sacolas com mantimentos, produtos de higiene, folhas em branco e envelopes.

A viagem não é a passeio, mas vai visitar seu namorado na Penitenciária de Lavínia, no interior de São Paulo. São sete horas de viagem em um ônibus clandestino.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que domina os presídios paulistas é responsável por uma frota de mais de cem ônibus que são distribuídos por todo o Estado: “A gente acaba se sujeitando a usar esse transporte clandestino. Se for de ônibus comum o gasto é muito maior. O valor que eu pago da passagem de ida e volta é o só da ida de um ônibus legalizado. Já gasto muito com as compras que ele precisa, com estadia na pousada, alimentação. Não posso me dar ao luxo de embarcar no Tietê”.

Na multidão de mulheres ela parece ser apenas mais uma, mas se chegarmos perto é visível que vive uma realidade diferente de todas as meninas que estão ali. É conhecida como a “patricinha de Lavínia” e garante que quase todas que estão ali não vão com a sua cara: “A nossa realidade é muito diferente. É fácil de perceber que o meu mundo é outro, as roupas, cabelos, pele, tudo é muito diferente. A aceitação é praticamente impossível. Elas esquecem que eu passo a mesmas dificuldades que elas”.

Escolheu seu próprio caminho. Conheceu seu atual namorado através da manicure de sua mãe: “No começo tinha vergonha desse relacionamento. Os mundos eram muitos diferentes, mas me sentia extremamente atraída por ele”.

O envolvimento no crime foi evitado. Tinha consciência que seu namorado era um traficante, mas nunca se aliou ou participou de seus trabalhos: “Cada um no seu canto. Eu com as minhas compras e ele com os seus negócios”.

Nunca havia lhe passado na cabeça à idéia de que um dia, Robson Galacci, 20 anos, seria preso. Hoje já são quatro anos de relacionamento, sendo que dois desses anos ele esta encarcerado: “Foi um choque muito grande, nunca pensei que isso fosse acontecer”.

Desde então a sua vida mudou drasticamente. Não freqüenta mais os shoppings nem salões de beleza. Seus pais não aceitaram a idéia de sua filha estar freqüentando um presídio: “Meu pai nunca aceitaria essa situação. Ele é advogado. A única decisão que eles tomaram e que eu faria as minhas escolhas e conseqüentemente arcaria com elas”.

E foi exatamente isso que ela fez. Trabalha para poder sustentar seu namorado e fazer as viagens. A humilhação é grande. Lembra do cheiro do presídio e da timidez de cada revista e com lágrimas nos olhos conta: “Eles nos fazem ficar peladas, agachar diversas vezes, examinam meu corpo”.

Incrivelmente é feliz: “É um esforço muito grande, mas o meu amor é muito maior”. Ao perguntar como ela vai se sentir se quando ele sair, arranjar outra namorada, os mesmos olhos vazios respondem: “Vivo o hoje, amanhã a Deus pertence”.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

O ato de compor

De acordo com o dicionário "compor" é um verbo que tem como significado: formar de várias coisas; entrar na composição de; produzir; inventar; criar; arranjar; dispor; coordenar; consertar; melhorar; harmonizar; apaziguar; combinar; ajustar; aparentar. São tantos significados que pode ser resumido através de uma única expressão: é a arte de transportar sentimentos para as palavras.

Se você também compõe compareça a FÁBRICA DE CRIATIVIDADE e seja mais um membro desse encontro!



RESENHA DO FILME: ESTADO DE SITIO


“A guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que à vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”.
Thomas Hobbes



O drama Estado de Sitio (État de Siège) dirigido pelo grego Costa Gavras retrata a influencia direta dos Estados Unidos nas ditaduras militares da América Latina.

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética discordam de suas formas de governo, um defende o capitalismo e o outro o socialismo, iniciando uma Terceira Guerra, a Guerra Fria.


A Guerra Fria recebeu esse nome porque em nenhum momento foi travado combate físico, porém o mundo vivia a expectativa de um novo conflito mundial, com a insegurança de que os países envolvidos possuíam uma grande quantidade de armamento nuclear e que em qualquer momento poderiam dizimar a população mundial.


Junto com a Guerra Fria as ditaduras militares começaram a se desenvolver nos países da América Latina, entre esses países estão: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.


A ficção se passa na década de 60 e 70 no Uruguai, onde um grupo chamado Tupamaros, também conhecido como Movimento de Libertação Nacional (MLN) seqüestra o funcionário da polícia norte- americana Philip Michael Santore e o Cônsul brasileiro Roberto Campos.


O longa – metragem se desenvolve em uma sala onde o líder dos Tupamaros interroga os seqüestrados, principalmente Philip Santore. Nesse interrogatório começa a ser descoberto como era a atuação norte – americano nos países da América Latina.


O filme começa a mostrar dados importantes e até mesmo assustadores como o treinamento de dez mil policiais brasileiros tornando – os especializados em técnicas de tortura.


Diante desses interrogatórios os Tupamaros começam a exigir que o governo uruguaio solte os presos políticos em troca dos seqüestrados. O caso ganha notoriedade e gera uma crise política internacional, já que um dos seqüestrados é cidadão da maior potência mundial.


Todos esses fatos envolvidos em uma mesma narrativa poderia causar confusão ao telespectador, porém o diretor Costa Gravas conseguiu costurar todos os acontecimentos de uma única maneira, em uma única narrativa.


Costa Gravas nasceu em Loutra – Irajas na Grécia, mas começou sua carreira de cineasta em Paris, onde foi morar aos 18 anos. O diretor sempre focou sua carreira no cinema francês e norte – americano. Suas obras sempre tiveram influencia direta do cinema político da época.


Seus filmes sempre abordaram temas como ditadura, desigualdade social, a manipulação da imprensa na opinião publica, abuso de autoridades governamentais e outros temas um tanto quanto polêmicos.


Costa Graves se tornou uma dos maiores exemplos do cinema político internacional e seu primeiro longa-metragem foi Crime no Carro Dormitório, em 1965.

O cinema político da década de 70 e 80 é marcado pela notoriedade dada a América Latina, isso se deve as barbaridades que aqui ocorriam, como as torturas com aparelhos elétricos no período da Ditadura e as desigualdades sociais que afligiam todo a população.


Ainda hoje colhemos produtos culturais baseados nessa época. Um deles é o filme “O ano que meus pais saíram de férias”, que narra a história de um garoto de 12 anos que tem pais esquerdistas que precisam viver na clandestinidade.


O cenário é a Ditadura Militar no Brasil no seu momento mais opressor e violento, a década de 70.

Logo nos faz comparar com “Estado de Sítio”, ambos são vivenciados na mesma época, porém um tem como cenário o Uruguai e o outro o Brasil. Mas as situações vivenciadas são as mesmas, a violência, a opressão, a perca de direitos e liberdade.


Levando em conta que cada filme tem um olhar diferente. “O dia que meus pais saíram de férias” leva o olhar de um garoto de 12 anos, que apesar de vivenciar a Ditadura brasileira, ainda tem como preocupação o futebol, a descoberta sexual e os amigos.


Estado de Sitio tem um olhar mais crítico, maduro. A visão de um grupo que tenta descobrir o que existe por trás dos golpes do governo e que se organiza em pro a libertação dos seus presos políticos já que o Uruguai em pouco tempo se torna o país com maior quantidade de presos políticos do mundo.


O filme foi censurado no Brasil e após muitos anos teve lançamento no mercado de vídeo.
Ficha Técnica

Título Original: État de Siège
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento (França / Itália / Alemanha): 1973
Estúdio: Regane Films / Unidis / Cinema X / Dieter Geissler Filmproduktion / Euro International Film S.p.A.
Distribuição: Cinema 5 Distributing
Direção: Costa-Gavras
Roteiro: Costa-Gavras e Franco Solinas, baseado em estória de Franco Solinas
Produção: Jacques Perrin
Música: Mikis Theodorakis
Fotografia: Pierre-William Glenn
Desenho de Produção: Jacques D'Ovidio
Figurino: Piet Bolscher
Edição: Françoise Bonnot

RESENHA DO FILME: A BATALHA DE ARGEL

“século de guerras religiosas, que têm na intolerância
sua principal característica”“.
Eric Hobsbawm – A era dos extremos.






O drama A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri) dirigido por Gillo Pontecorvo retrata o a situação da Argélia na década de 50 após o termino da 2ª Guerra Mundial, quando o país era uma colônia francesa e lutou por sua independência.


A Argélia é um país norte africano que esta localizada próximo do Mar Mediterrâneo e que tem como capital a cidade de Argel. No ano de 1930, a França invadiu a Argélia e colonizou o país e seu povo. Após essa invasão a população argelina ficou dividida.


De um lado as pessoas com descendência européia, na maioria franceses e judeus argelinos passaram a ser considerados cidadãos franceses, portanto tinha o apoio e segurança do Estado e do outro lado estavam os muçulmanos argelinos que não tinham sequer direito ao voto. Fórmula perfeita para desigualdade social. De um lado europeus vivendo e do outro argelinos sequer sobrevivendo.


A separação entre as classes social é nitidamente mostrada por Gillo Pontecorvo, que com muita sensibilidade consegue demonstrar a situação de uma maneira neutra, não assumindo nenhuma posição. Diante dessa desigualdade se forma um grupo chamado Frente De Libertação Nacional (FNL), que se organiza e tenta através de ataques terroristas e técnicas não convencionais de combate conquistar a liberdade do seu país.


A partir daí começa uma Guerra de Guerrilha, pois a França tem um exército fortemente armado e organizado enquanto os membros da FNL vão para a batalha com armamento precário. Porem a FNL conta com uma arma secreta que é a sua forma de se organizar.


Pode-se ate mesmo fazer uma comparação com os nossos dias se relacionarmos a guerra travada entre os Estados Unidos e o Oriente Médio. Recentemente o historiador militar da Universidade Hebraica de Jerusalém afirmou em uma entrevista ao jornal Estado de São Paulo que “Os EUA estão perdendo a guerra por falta de informação”.


A França também estava perdendo a guerra por falta de informação até armarem emboscadas e descobrir todos os mandantes que eram responsáveis pela Frente de Libertação Nacional e vencer a batalha, apenas em 1962 a Argélia é libertada pela França em troca de garantias francesas no território argelino.


O longa-metragem lançado em 1965 nos passa a sensação de estar assistindo um documentário, pois suas cenas transpiram realidade.


O compromisso com a veracidade dos acontecimentos é tamanha que muitas vezes os atores são confundidos com seus personagens, e confesso que em determinados momentos pensei que não estava diante de um longa e sim de uma obra do cinema documental, pois me senti diante de um registro fiel do que aconteceu. Um documentário elaborado para um historiador, para um curioso que deseja ter a sensação dos acontecimentos na época, que deseja se transportar para a Argélia.

O Brasil não pode participar do processo de admiração de uma das maiores obras do cinema político internacional. Na época o país vivia um momento muito delicado, a Ditadura e o filme foi proibido utilizado depois para treinar nossas tropas.


É um exemplo do cinema político da época e têm três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, alem de ser ganhador do Prêmio Leão de Ouro e o Prêmio FIPRESCI, no Festival de Veneza.


O cinema político atual se preocupa em mostrar em mostrar as desigualdades sociais, muitas vezes tratando a pobreza e a miséria com descaso, somente como um produto para entreter o telespectador.


Em uma entrevista para o site Negativo on-line, o cineasta Renato Tapajós afirma que “o Cinema Novo passa a estabelecer uma preocupação política: mostrar a cara do Brasil (suas contradições sociais) e um discurso sobre a superação da miséria. Isto não deixa de ser um ponto de vista de certa maneira distinto ao da nova geração de cineastas brasileiros que abordam a miséria. Da retomada pra cá surge uma nova geração que tematiza a miséria. Não sobre um ponto de vista político, mas existencial. A miséria é vista no cinema de hoje sem um discurso engajado.”



Ficha Técnica


Título Original: La Battaglia di Algeri

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 117 minutos

Ano de Lançamento (Itália / Argélia): 1965


Estúdio: Igor Film / Casbah Film

Distribuição: Lumière

Direção: Gillo Pontecorvo

Roteiro: Gillo Pontecorvo e Franco Solinas

Produção: Antonio Musu e Yacef Saadi

Música: Ennio Morricone e Gillo Pontecorvo

Fotografia: Marcello Gatti

Desenho de Produção: Sergio Canevari

Figurino: Giovanni Axerio

Edição: Mario Morra e Mario Serandrei

Elenco: Brahim Haggiag (Ali La Pointe)Jean Martin (Coronel Mathieu)Yacef Saadi (Djafar)Ugo Paletti (Capitão)Fusia El Kader (Halima)Mohamed Ben Kassen (Omar)Michele Kerbash (Fathia)Samia Kerbash

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Rir é o melhor remédio

Alunos dos Doutores da Alegria invadem a Zona Sul.




A Fábrica de Criatividade abre suas portas e dá as boas-vindas ao bom humor. É a Trupe Fuleragem composta por quatro integrantes que caracterizados de palhaços nos transportam para outros mundos com a peça Fora dos Trilhos.

O roteiro tem como foco o exercício da máscara de palhaço. Gastão, Aminésio, Kaçarola e Aurelino nos levam a construção de cenas clássicas de palhaços reproduzidos em livros especializados, porém utilizam com sutileza a experiência acumulada no cotidiano de cada ator.

O espetáculo teve início com o Programa de Formação para Jovens, dos Doutores da Alegia: “Fiquei sabendo do curso dos Doutores da Alegria e resolvi me candidatar à vaga. Para minha surpresa acabei sendo escolhido” afirma Washington Gabriel, 20 anos, ator.

O percurso até a formação completa de palhaço não é fácil. Foram 2 anos, de estudos, com treinamento de 4 horas diárias. Foi uma longa jornada de trabalho, incluindo desde a história do teatro, pedagogia das máscaras, experimentações e até a influência do gênero italiano de comédia.

O ator Leandro Mello, 20 anos, comenta: “Ser palhaço não é nada fácil. Com muito esforço e ralação passamos por diversas máscaras até chegar à máscara de palhaço, que por incrível que pareça foi a mais difícil, mas a que mais agradou a todos nós”.

Depois de muito esforço a peça ganha vida e os atores mudam de estadia: das salas de aula para os palcos. A experiência de estar atuando em diversos locais com diferentes públicos parece ter surtido resultado: “Ficávamos em uma sala trabalhando, mas nunca estávamos no palco. Essa experiência esta sendo muito boa” diz Luan de Jesus, 20 anos, ator.

Para lidar com o teatro, os atores da vida real encenam no dia a dia com diferentes profissões. Desde vendedor autônomo a educador ambiental: “Eu acredito que exista a possibilidade de viver de teatro, mas para isso o ator precisa de bastante experiência. Uma carreira a longo prazo” comenta Diego Alexandre, 20 anos,ator.

Depois de muito trabalho o público do Capão Redondo aprovou o resultado, e aplaudiu de pé a trupe que arrancou gargalhadas do público: “ Amei de paixão. Essa é uma linha que eu tento seguir no meu dia a dia, o bom humor” afirma Elienay de Jesus Rodrigues, 23, estudante de enfermagem.

O profissionalismo também ganhou destaque: “Eu achei muito interessante. São excelentes profissionais. Recomendo!” conta Rafael Guimarães Nobre, 21 anos, assistente de compras.

A Fábrica de Criatividade, apoiando a cultura nacional, levou ao Capão Redondo um pouco de alegria, que estava estampada nas faces do público em geral. Deu a oportunidade de pessoas de diversas idades, assistirem a arte de interpretar: “Eu nunca tinha ido ao teatro. Achei tudo muito divertido, gostei muito. Antes eu achava que o teatro era brega, agora já tenho uma outra visão” disse Fernando Aguiar Andrello, 24 anos, promotor de vendas.

A Trupe Fuleragem não para por aí. Todos vão encarar uma nova experiência e deixar de lado as máscaras de palhaços e vivenciar um drama. Agora é só esperar para conferir!


sexta-feira, 18 de abril de 2008

FÁBRICA DE CRIATIVIDADE E DOUTORES DA ALEGRIA !!!

O Capão Redondo não é só lugar de estatísticas criminais. Tem muita arte rolando por lá. Não acredita. Venha conferir !!!





quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pelos Olhos de Anita





A esperança nos traços das crianças e seus olhares curiosos contrastam com as marcas de tempos difíceis no corpo dos adultos e idosos. A liberdade nas brincadeiras dos filhos em nada lembra a limitação do horizonte dos pais.

Anita está em um local de onde se pode avistar o futuro e o passado: a grande questão é o presente, quando se tem que trabalhar, mesmo sem emprego, para sobreviver, na subvida que tem na má formação, intelectual e corporal, sua principal aliada.

Anita Garibaldi é um assentamento do MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, com 113 hectares em Cumbica, periferia de Guarulhos na Grande São Paulo. Um quase-bairro com cerca de 5 mil famílias que tem apenas uma grande árvore, que não é revolucionário, que não é mais movimento social, que se tornou apenas reflexo da ausência de políticas públicas.

Observar como a comunidade se organiza para suprir as necessidades básicas que estão na Declaração Universal dos Direitos Humanos: alimentação, saúde, educação, moradia, trabalho e lazer é uma barreira a ser rompida com muito calor, terra vermelha e seca, com o vento forte que hora ou outra aparece para amenizar a temperatura. Vento forte que forma pequenos tornados no campo de futebol.

Conhecido como Índio, Alcir da Silva, 27 anos, é proprietário de uma quitanda de legumes e frutas. É dessa pequena loja que tira o sustento de toda a sua família: “Minha filha. Pior coisa que tem é você acordar de manhã e seu filho pedir um pão e você não tiver. Passa muita coisa ruim na cabeça do cara”.

Incrivelmente é feliz. Já passou por situações piores. Não reclama do calor, nem desanima diante das dificuldades. Segundo ele, a ocupação do terreno lhe deu a oportunidade de ter um lar, um lugar para descansar coberto de pó diante de um dia e uma noite de intenso trabalho: “A pior coisa que tem é você trabalhar o dia todinho e não ter onde descansar o corpo. Hoje não, hoje eu tenho. Não é aquele pedação, mas eu tenho. Antigamente eu dormia debaixo de uma balança, ali na Cumbica, ali numa firma. Passei dois anos debaixo dessa balança. Por isso que eu falo que hoje eu tô no paraíso. Eu sou um cara que estou desempregado, certo. Tô vivendo disso aqui. Dessa quitandinha. No sábado eu saio pra vender framula. Não sei se vocês conhecem o que é framula. Aquelas frases de amor que vende no bar.”

Nessa mesma rua surge uma fila inesperada muito aguardada por seus moradores. Trata-se da entrega semanal de alimentos. Mas o que chama a atenção é um senhor que observa o movimento, como se estivesse incumbido dessa missão. Parece estar atento a todos os detalhes e sua presença impõe respeito aos moradores.
É o senhor Feliciano Pereira de Almeida, 60 anos, morador e membro da Associação dos Moradores do Jardim Anita Garibaldi: “Aqui mesmo nós temos na Igreja Católica, aqui todo dia de sexta-feira, eles adoa alimento ai, mandioca, folha, tomate, tudo eles dão pro pessoal. Quando não tem, algumas pessoas daqui sai pra ir pegar fora”.

Seu Feliciano acompanha a incessante busca por conhecer um bairro tão carente e desprovido de apoio do governo. Tem um motivo pessoal, é um dos líderes do Movimento Sem Teto que naquele local havia se dissolvido. Conhece todos do bairro, esteve desde o primeiro dia na ocupação. Participou do loteamento, medindo lote por lote, distribuindo um pouco de esperança a todos que acompanharam ou apoiaram o movimento.

Seu Feliciano continua nos guiando entre as ruas do Jardim Anita. Entre uma casa e outra ele vai falando de sua luta e de seus sonhos. Sonha com a posse da terra, quer ser legalizado. No Anita sua missão ainda não terminou, mas ele vai procurando outros lugares para uma futura ocupação. Faz os serviços de base e não gosta de criar raízes: “A luta não pode parar, tem muitas pessoas sem teto ainda”.

Como um dos seus principais companheiros, ele nos apresenta o Seu Arruda,59 anos, conhecido como Papai Noel. Os olhos azuis, a barba e os cabelos bem brancos nos fazem lembrar o “bom velhinho” ou talvez Karl Marx. Logo de cara ele mostra sua tendência política. Veste uma camiseta com a seguinte mensagem “Desemprego FHC é campeão”.

Conta que já fez de tudo um pouco. Após a ocupação era responsável pela segurança do local e das pessoas. A paz da comunidade dependia dele. Já se envolveu em todo o tipo de briga, até mesmo briga de casal. Depois, coordenou o caminhão de água. Tinha a função de dividir a água de forma igualitária: “O pessoal brigava pela água, porque era pouca né. Vinha um caminhão de água para abastecer doze mil pessoas. Então eu tinha que separar a água, um pouquinho pra cada um. Tinha uns que queriam mais do que os outros e era uma briga danada!”.

Mesmo com uma equipe responsável pela distribuição da água, as brigas não terminavam. Então formaram uma nova equipe desta vez para assegurar os funcionários do Serviço Autônomo de Abastecimento e Esgoto de Guarulhos (SAAE): ”Algumas vezes eles não queriam nem vim aqui. Eles estavam com medo. A gente ia lá no SAEE e eles falavam: Toma a chave do meu caminhão. Pode ir. Eu não quero, eu não vou. Então nos montamos um esquema que a gente ia lá buscar, a gente ia acompanhar eles lá, carregar o caminhão de água, trazer, chegar aqui, distribuir. Garantir a segurança deles”.

Depois a comunidade foi se acostumando a distribuição e a função de segurança ficou extinta. Seu Arruda chama muito a atenção. Ainda mora no mesmo barraco de lona dos tempos da ocupação e tem como companheiro apenas um cachorro.

A caminhada parece nunca chegar ao fim. Muito sol, só mesmo um geladinho de tamarindo comprado ali mesmo pra aliviar o calor. Seu Feliciano insiste para que conheça um morador. Elvis Vieira, 25 anos, mora em um barraco de madeira coberto de quadros e bandeiras do Movimento. É muito jovem, comparado aos outros líderes.

Elvis logo quer explicar a história do bairro. “Bom, essa aqui é a minha casa. Eu moro aqui desde 2001. Aí tem a questão do pessoal que consegue fazer a sua casa e tem a questão do pessoal que não consegue. Eu sou um desses também, que até hoje ainda moro no barraco de madeira. Por motivo de falta de emprego e por motivo também dessa sociedade nossa aí injusta né? Que não tem igualdade social pra todos. É um país que 10% manda e 90% é mandado. Uma casa pra mim, estar vivendo com a minha esposa, futuramente filhos, quatro cômodos e um banheiro pra mim seria ótimo. Tava melhor. Não precisaria ser uma casa que nem tem gente que fez aqui, sobrado. Eu acho que todo ser humano, todo cidadão que mora no Brasil, deveria ter sua casa. Com quatro cômodos e um banheiro bem feito.

Elvis faz questão de deixar uma mensagem para todos que um dia sonharam em melhorar de vida, buscar um ideal: “Eu queria dizer que um sonho que se sonha só é somente um sonho que se sonha só. Mas um sonho que sonhamos juntos é realidade”.