quinta-feira, 8 de maio de 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

O ato de compor

De acordo com o dicionário "compor" é um verbo que tem como significado: formar de várias coisas; entrar na composição de; produzir; inventar; criar; arranjar; dispor; coordenar; consertar; melhorar; harmonizar; apaziguar; combinar; ajustar; aparentar. São tantos significados que pode ser resumido através de uma única expressão: é a arte de transportar sentimentos para as palavras.

Se você também compõe compareça a FÁBRICA DE CRIATIVIDADE e seja mais um membro desse encontro!



RESENHA DO FILME: ESTADO DE SITIO


“A guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: mas num período de tempo em que à vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”.
Thomas Hobbes



O drama Estado de Sitio (État de Siège) dirigido pelo grego Costa Gavras retrata a influencia direta dos Estados Unidos nas ditaduras militares da América Latina.

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética discordam de suas formas de governo, um defende o capitalismo e o outro o socialismo, iniciando uma Terceira Guerra, a Guerra Fria.


A Guerra Fria recebeu esse nome porque em nenhum momento foi travado combate físico, porém o mundo vivia a expectativa de um novo conflito mundial, com a insegurança de que os países envolvidos possuíam uma grande quantidade de armamento nuclear e que em qualquer momento poderiam dizimar a população mundial.


Junto com a Guerra Fria as ditaduras militares começaram a se desenvolver nos países da América Latina, entre esses países estão: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.


A ficção se passa na década de 60 e 70 no Uruguai, onde um grupo chamado Tupamaros, também conhecido como Movimento de Libertação Nacional (MLN) seqüestra o funcionário da polícia norte- americana Philip Michael Santore e o Cônsul brasileiro Roberto Campos.


O longa – metragem se desenvolve em uma sala onde o líder dos Tupamaros interroga os seqüestrados, principalmente Philip Santore. Nesse interrogatório começa a ser descoberto como era a atuação norte – americano nos países da América Latina.


O filme começa a mostrar dados importantes e até mesmo assustadores como o treinamento de dez mil policiais brasileiros tornando – os especializados em técnicas de tortura.


Diante desses interrogatórios os Tupamaros começam a exigir que o governo uruguaio solte os presos políticos em troca dos seqüestrados. O caso ganha notoriedade e gera uma crise política internacional, já que um dos seqüestrados é cidadão da maior potência mundial.


Todos esses fatos envolvidos em uma mesma narrativa poderia causar confusão ao telespectador, porém o diretor Costa Gravas conseguiu costurar todos os acontecimentos de uma única maneira, em uma única narrativa.


Costa Gravas nasceu em Loutra – Irajas na Grécia, mas começou sua carreira de cineasta em Paris, onde foi morar aos 18 anos. O diretor sempre focou sua carreira no cinema francês e norte – americano. Suas obras sempre tiveram influencia direta do cinema político da época.


Seus filmes sempre abordaram temas como ditadura, desigualdade social, a manipulação da imprensa na opinião publica, abuso de autoridades governamentais e outros temas um tanto quanto polêmicos.


Costa Graves se tornou uma dos maiores exemplos do cinema político internacional e seu primeiro longa-metragem foi Crime no Carro Dormitório, em 1965.

O cinema político da década de 70 e 80 é marcado pela notoriedade dada a América Latina, isso se deve as barbaridades que aqui ocorriam, como as torturas com aparelhos elétricos no período da Ditadura e as desigualdades sociais que afligiam todo a população.


Ainda hoje colhemos produtos culturais baseados nessa época. Um deles é o filme “O ano que meus pais saíram de férias”, que narra a história de um garoto de 12 anos que tem pais esquerdistas que precisam viver na clandestinidade.


O cenário é a Ditadura Militar no Brasil no seu momento mais opressor e violento, a década de 70.

Logo nos faz comparar com “Estado de Sítio”, ambos são vivenciados na mesma época, porém um tem como cenário o Uruguai e o outro o Brasil. Mas as situações vivenciadas são as mesmas, a violência, a opressão, a perca de direitos e liberdade.


Levando em conta que cada filme tem um olhar diferente. “O dia que meus pais saíram de férias” leva o olhar de um garoto de 12 anos, que apesar de vivenciar a Ditadura brasileira, ainda tem como preocupação o futebol, a descoberta sexual e os amigos.


Estado de Sitio tem um olhar mais crítico, maduro. A visão de um grupo que tenta descobrir o que existe por trás dos golpes do governo e que se organiza em pro a libertação dos seus presos políticos já que o Uruguai em pouco tempo se torna o país com maior quantidade de presos políticos do mundo.


O filme foi censurado no Brasil e após muitos anos teve lançamento no mercado de vídeo.
Ficha Técnica

Título Original: État de Siège
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento (França / Itália / Alemanha): 1973
Estúdio: Regane Films / Unidis / Cinema X / Dieter Geissler Filmproduktion / Euro International Film S.p.A.
Distribuição: Cinema 5 Distributing
Direção: Costa-Gavras
Roteiro: Costa-Gavras e Franco Solinas, baseado em estória de Franco Solinas
Produção: Jacques Perrin
Música: Mikis Theodorakis
Fotografia: Pierre-William Glenn
Desenho de Produção: Jacques D'Ovidio
Figurino: Piet Bolscher
Edição: Françoise Bonnot

RESENHA DO FILME: A BATALHA DE ARGEL

“século de guerras religiosas, que têm na intolerância
sua principal característica”“.
Eric Hobsbawm – A era dos extremos.






O drama A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri) dirigido por Gillo Pontecorvo retrata o a situação da Argélia na década de 50 após o termino da 2ª Guerra Mundial, quando o país era uma colônia francesa e lutou por sua independência.


A Argélia é um país norte africano que esta localizada próximo do Mar Mediterrâneo e que tem como capital a cidade de Argel. No ano de 1930, a França invadiu a Argélia e colonizou o país e seu povo. Após essa invasão a população argelina ficou dividida.


De um lado as pessoas com descendência européia, na maioria franceses e judeus argelinos passaram a ser considerados cidadãos franceses, portanto tinha o apoio e segurança do Estado e do outro lado estavam os muçulmanos argelinos que não tinham sequer direito ao voto. Fórmula perfeita para desigualdade social. De um lado europeus vivendo e do outro argelinos sequer sobrevivendo.


A separação entre as classes social é nitidamente mostrada por Gillo Pontecorvo, que com muita sensibilidade consegue demonstrar a situação de uma maneira neutra, não assumindo nenhuma posição. Diante dessa desigualdade se forma um grupo chamado Frente De Libertação Nacional (FNL), que se organiza e tenta através de ataques terroristas e técnicas não convencionais de combate conquistar a liberdade do seu país.


A partir daí começa uma Guerra de Guerrilha, pois a França tem um exército fortemente armado e organizado enquanto os membros da FNL vão para a batalha com armamento precário. Porem a FNL conta com uma arma secreta que é a sua forma de se organizar.


Pode-se ate mesmo fazer uma comparação com os nossos dias se relacionarmos a guerra travada entre os Estados Unidos e o Oriente Médio. Recentemente o historiador militar da Universidade Hebraica de Jerusalém afirmou em uma entrevista ao jornal Estado de São Paulo que “Os EUA estão perdendo a guerra por falta de informação”.


A França também estava perdendo a guerra por falta de informação até armarem emboscadas e descobrir todos os mandantes que eram responsáveis pela Frente de Libertação Nacional e vencer a batalha, apenas em 1962 a Argélia é libertada pela França em troca de garantias francesas no território argelino.


O longa-metragem lançado em 1965 nos passa a sensação de estar assistindo um documentário, pois suas cenas transpiram realidade.


O compromisso com a veracidade dos acontecimentos é tamanha que muitas vezes os atores são confundidos com seus personagens, e confesso que em determinados momentos pensei que não estava diante de um longa e sim de uma obra do cinema documental, pois me senti diante de um registro fiel do que aconteceu. Um documentário elaborado para um historiador, para um curioso que deseja ter a sensação dos acontecimentos na época, que deseja se transportar para a Argélia.

O Brasil não pode participar do processo de admiração de uma das maiores obras do cinema político internacional. Na época o país vivia um momento muito delicado, a Ditadura e o filme foi proibido utilizado depois para treinar nossas tropas.


É um exemplo do cinema político da época e têm três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, alem de ser ganhador do Prêmio Leão de Ouro e o Prêmio FIPRESCI, no Festival de Veneza.


O cinema político atual se preocupa em mostrar em mostrar as desigualdades sociais, muitas vezes tratando a pobreza e a miséria com descaso, somente como um produto para entreter o telespectador.


Em uma entrevista para o site Negativo on-line, o cineasta Renato Tapajós afirma que “o Cinema Novo passa a estabelecer uma preocupação política: mostrar a cara do Brasil (suas contradições sociais) e um discurso sobre a superação da miséria. Isto não deixa de ser um ponto de vista de certa maneira distinto ao da nova geração de cineastas brasileiros que abordam a miséria. Da retomada pra cá surge uma nova geração que tematiza a miséria. Não sobre um ponto de vista político, mas existencial. A miséria é vista no cinema de hoje sem um discurso engajado.”



Ficha Técnica


Título Original: La Battaglia di Algeri

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 117 minutos

Ano de Lançamento (Itália / Argélia): 1965


Estúdio: Igor Film / Casbah Film

Distribuição: Lumière

Direção: Gillo Pontecorvo

Roteiro: Gillo Pontecorvo e Franco Solinas

Produção: Antonio Musu e Yacef Saadi

Música: Ennio Morricone e Gillo Pontecorvo

Fotografia: Marcello Gatti

Desenho de Produção: Sergio Canevari

Figurino: Giovanni Axerio

Edição: Mario Morra e Mario Serandrei

Elenco: Brahim Haggiag (Ali La Pointe)Jean Martin (Coronel Mathieu)Yacef Saadi (Djafar)Ugo Paletti (Capitão)Fusia El Kader (Halima)Mohamed Ben Kassen (Omar)Michele Kerbash (Fathia)Samia Kerbash