terça-feira, 6 de maio de 2008

RESENHA DO FILME: A BATALHA DE ARGEL

“século de guerras religiosas, que têm na intolerância
sua principal característica”“.
Eric Hobsbawm – A era dos extremos.






O drama A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri) dirigido por Gillo Pontecorvo retrata o a situação da Argélia na década de 50 após o termino da 2ª Guerra Mundial, quando o país era uma colônia francesa e lutou por sua independência.


A Argélia é um país norte africano que esta localizada próximo do Mar Mediterrâneo e que tem como capital a cidade de Argel. No ano de 1930, a França invadiu a Argélia e colonizou o país e seu povo. Após essa invasão a população argelina ficou dividida.


De um lado as pessoas com descendência européia, na maioria franceses e judeus argelinos passaram a ser considerados cidadãos franceses, portanto tinha o apoio e segurança do Estado e do outro lado estavam os muçulmanos argelinos que não tinham sequer direito ao voto. Fórmula perfeita para desigualdade social. De um lado europeus vivendo e do outro argelinos sequer sobrevivendo.


A separação entre as classes social é nitidamente mostrada por Gillo Pontecorvo, que com muita sensibilidade consegue demonstrar a situação de uma maneira neutra, não assumindo nenhuma posição. Diante dessa desigualdade se forma um grupo chamado Frente De Libertação Nacional (FNL), que se organiza e tenta através de ataques terroristas e técnicas não convencionais de combate conquistar a liberdade do seu país.


A partir daí começa uma Guerra de Guerrilha, pois a França tem um exército fortemente armado e organizado enquanto os membros da FNL vão para a batalha com armamento precário. Porem a FNL conta com uma arma secreta que é a sua forma de se organizar.


Pode-se ate mesmo fazer uma comparação com os nossos dias se relacionarmos a guerra travada entre os Estados Unidos e o Oriente Médio. Recentemente o historiador militar da Universidade Hebraica de Jerusalém afirmou em uma entrevista ao jornal Estado de São Paulo que “Os EUA estão perdendo a guerra por falta de informação”.


A França também estava perdendo a guerra por falta de informação até armarem emboscadas e descobrir todos os mandantes que eram responsáveis pela Frente de Libertação Nacional e vencer a batalha, apenas em 1962 a Argélia é libertada pela França em troca de garantias francesas no território argelino.


O longa-metragem lançado em 1965 nos passa a sensação de estar assistindo um documentário, pois suas cenas transpiram realidade.


O compromisso com a veracidade dos acontecimentos é tamanha que muitas vezes os atores são confundidos com seus personagens, e confesso que em determinados momentos pensei que não estava diante de um longa e sim de uma obra do cinema documental, pois me senti diante de um registro fiel do que aconteceu. Um documentário elaborado para um historiador, para um curioso que deseja ter a sensação dos acontecimentos na época, que deseja se transportar para a Argélia.

O Brasil não pode participar do processo de admiração de uma das maiores obras do cinema político internacional. Na época o país vivia um momento muito delicado, a Ditadura e o filme foi proibido utilizado depois para treinar nossas tropas.


É um exemplo do cinema político da época e têm três indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, alem de ser ganhador do Prêmio Leão de Ouro e o Prêmio FIPRESCI, no Festival de Veneza.


O cinema político atual se preocupa em mostrar em mostrar as desigualdades sociais, muitas vezes tratando a pobreza e a miséria com descaso, somente como um produto para entreter o telespectador.


Em uma entrevista para o site Negativo on-line, o cineasta Renato Tapajós afirma que “o Cinema Novo passa a estabelecer uma preocupação política: mostrar a cara do Brasil (suas contradições sociais) e um discurso sobre a superação da miséria. Isto não deixa de ser um ponto de vista de certa maneira distinto ao da nova geração de cineastas brasileiros que abordam a miséria. Da retomada pra cá surge uma nova geração que tematiza a miséria. Não sobre um ponto de vista político, mas existencial. A miséria é vista no cinema de hoje sem um discurso engajado.”



Ficha Técnica


Título Original: La Battaglia di Algeri

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 117 minutos

Ano de Lançamento (Itália / Argélia): 1965


Estúdio: Igor Film / Casbah Film

Distribuição: Lumière

Direção: Gillo Pontecorvo

Roteiro: Gillo Pontecorvo e Franco Solinas

Produção: Antonio Musu e Yacef Saadi

Música: Ennio Morricone e Gillo Pontecorvo

Fotografia: Marcello Gatti

Desenho de Produção: Sergio Canevari

Figurino: Giovanni Axerio

Edição: Mario Morra e Mario Serandrei

Elenco: Brahim Haggiag (Ali La Pointe)Jean Martin (Coronel Mathieu)Yacef Saadi (Djafar)Ugo Paletti (Capitão)Fusia El Kader (Halima)Mohamed Ben Kassen (Omar)Michele Kerbash (Fathia)Samia Kerbash

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